Sugestão de aula utilizando música e curta-metragem

Essa aula foi pensada compondo um conjunto temático de aulas presentes nos Cadernos de Sociologia do Estado. O tema era Cultura e Cultura de Massa. Não há a pretensão de que essa seja a única ou a melhor maneira de se fazer[1] uma aula sobre esse tema, essa é uma proposta aberta, sujeita a modificações. Isso porque diferentes variáveis podem interferir nesse planejamento – tipo de escola, postura do professor, dos alunos, projeto político pedagógico, dentre outros fatores. Por isso foi feito um esforço mental de pensar em uma classe abstrata com demandas genéricas que poderiam estar presentes na maioria das situações de aula.

O objetivo geral desse conjunto de aulas baseadas nesse tema é estimular os alunos a adquirir diferentes capacidades: autonomia, criatividade, formulação e resolução de problemas, diagnóstico, análise e avaliação de situações, experiências e informações de diferentes fontes e áreas da Sociologia. Ou seja, pretende-se estimular o pensamento crítico e reflexivo dos alunos a fim de capacitá-los com informações e conhecimentos para a elaboração de argumentos que sustentem suas posições sobre diferentes assuntos; fornecendo chaves para um raciocínio lógico e analítico sobre a realidade em que eles vivem. Além disso, também visa à integração que favoreça a síntese de idéias, a tomada de decisões e a comunicação interpessoal, ao valorizar os trabalhos em grupo e as falas coletivas, por exemplo.

A partir disso foram pensadas quatro aulas seguindo fundamentalmente a seguinte estrutura:

  • Aula I: Cultura e Cultura de massa

(definição, diferenciação e contextualização dos conceitos)

  • Aula II: Cultura e Indústria

(usos sociais da cultura para a promoção de um modo de vida. Ex.: Cinema, música, novela, propagandas)

  • Aula III: Consumo e Consumismo

(definição, diferenciação e contextualização dos conceitos)

  • Aula IV: Construção de Identidade

(apropriação da cultura de massa pelos jovens do século XXI)

 

Consumo e Consumismo

 

Objetivos

Mais uma vez o objetivo é definir, diferenciar e contextualizar os dois conceitos para evitar confusões entre coisas distintas. Pretende-se, com isso, habilitar os alunos a identificar algumas situações cotidianas nas quais eles agem de acordo com um ou com outro conceito, de modo que não só os conceitos sociológicos sejam desenvolvidos em sala de aula, mas que o olhar e o método sociológico também possam ser trabalhados pelos alunos. Assim, visamos à reflexão crítica dos alunos sobre tais situações típicas de uma cultura do consumo (conexão com a primeira aula).

Leitura prévia para os alunos

COSTA, E. Consumo e consumismo: como diferenciar? In.: http://dinheirama.com/blog/2010/01/13/consumo-e-consumismo-como-diferenciar/ – acessado em 07/06/2011.

ABREU, C. Propaganda: qual o seu papel na sociedade? In: Sociologia: Ciência & Vida. Ano I n. 12.

Conceitos

Nas mais variadas sociedades, o consumo é parte da garantia de satisfação da das necessidades básicas. Os indivíduos e os distintos grupos, não produzem tudo aquilo necessário para sua satisfação e desenvolvimento, sejam produtos mais básicos, como alimentos, roupas e calçados ou bens culturais e simbólicos, relacionados ao conhecimento e ao lazer. Podemos relacionar o consumo de forma mais ampla com as diversas formas de trocas presente entre as sociedades, para além das sociedades industriais.

O consumismo está relacionado ao fato de nas sociedades industriais contemporâneas ocorrer a criação incessante de desejos. As grandes empresas, com a necessidade de manter e aumentar a produção de mercadorias, passam a investir na criação de necessidades. Estas necessidades se apóiam em valores estéticos e simbólicos e se conectam diretamente a um público consumidor direcionado, ao qual, tais necessidades serão ofertadas conjuntamente a idéias de utilidade e exclusividade dos produtos. As pessoas passam a ver o ato de comprar como fonte de satisfação, prazer e alegria.

O valor simbólico comercial, para além das qualidades dos produtos, está fortemente embasado no marketing e na publicidade. A produção de imagens das marcas é fundamental para a efetuação dos monopólios e seus rendimentos. A indústria publicitária opera fundamentalmente “dotando o produto de um valor simbólico não mensurável que prevalece sobre seu valor utilitário e de troca” [2], ela age na criação de valores simbólicos e culturais ligados a marca e confere aos seus produtos o caráter de exclusividade e prestígio.

Já como propaganda, podemos entender o que está relacionado à divulgação e à propagação dos produtos criados pelo sistema capitalista para potencializar suas vendas e, conseqüentemente, o consumo. Etimologicamente, propaganda vem do latim propagare: multiplicar, estender, propagar.        Mas propaganda é muito mais do que um mero mecanismo de divulgação, ela pode ter diferentes funções – positivas e negativas – como: persuadir e interferir no comportamento de uma geração, disseminar ideologias políticas, multiplicar idéias, promover pessoas e marcas, influenciar decisões e até propagar conhecimentos. Portanto, ela pode promover tanto produtos comerciais quanto idéias e crenças.

O desejo de consumir produzido pela sociedade capitalista não depende mais apenas do caráter útil dos produtos, mas está cada vez mais intrinsecamente ligado ao prazer de adquirir ou experimentar algo novo. É aí que atua a propaganda, puxando a inspiração para promover o ambiente ideal de consumo, criando, muitas vezes, propagandas simbólicas e fantasiosas.

Metodologia

Como essa também é uma aula que exige a exposição dos conceitos de modo conjunto com os alunos, essa seria uma aula um pouco mais expositiva, mas não exclusivamente, visto que os alunos já carregam uma bagagem sobre o assunto, elaborada nas aulas anteriores. A partir de uma leitura de fácil entendimento, pensamos em introduzir alguns trechos do texto de Marx sobre o tema, quando ele mostra que o consumo está ligado, essencialmente, ao suprimento das necessidades inerentes ao homem: alimentos, vestimentas, moradia, higiene; enquanto o consumismo estaria ligado às necessidades pessoais ou coletivas fantasiosas criadas no sistema capitalista que excedem as necessidades vitais do homem.

Pode-se começar a questionar quais as diferenças que eles perceberam, através da leitura do texto, entre consumo e consumismo. Mais adiante estabeleceríamos algumas conexões com os conceitos trabalhados na primeira aula – cultura, sociedade, cultura de massa, indústria cultural – mostrando que vivemos numa sociedade capitalista, onde há o culto ao consumo, ou melhor, ao consumismo.

Após a explanação sobre a diferença entre consumo e consumismo, é sugerido tocar a música 3ª do plural – Engenheiros do Havaí, onde fala da criação de necessidades fantasiosas pela classe social dominante a fim de controlar melhor as visões de mundo das classes dominadas. Uma breve discussão pode ser levantada antes de introduzir o conceito de propaganda, realçando a relação entre propaganda, produção de bens e serviços e venda/consumo, isto é, mostrar a propaganda como mediadora da relação entre produção e venda, potencializando o consumo dos bens produzidos em larga escala após a industrialização da sociedade.

 3ª do plural – Engenheiros do Havaí


Corrida pra vender cigarro
cigarro pra vender remédio
remédio pra curar a tosse
tossir, cuspir, jogar pra fora
corrida pra vender os carros
pneu, cerveja e gasolina
cabeça pra usar boné
e professar a fé de quem patrocina

Eles querem te vender, eles querem te comprar
querem te matar, de rir … Querem te fazer chorar
quem são eles?
quem eles pensam que são?

Corrida contra o relógio
silicone contra a gravidade
dedo no gatilho, velocidade
quem mente antes diz a verdade
satisfação garantida
obsolescência programada

eles ganham a corrida antes mesmo da largada

Eles querem te vender, eles querem te comprar
querem te matar, à sede…eles querem te sedar
quem são eles?
quem eles pensam que são?

Vender… Comprar… Vedar os olhos
jogar a rede contra a parede
querem te deixar com sede
não querem nos deixar pensar
quem são eles?
quem eles pensam que são?

Nesse momento pode ser trabalhada a influência da indústria da cultura na produção de cultura bem como na produção de nossa subjetividade. Para concluir e propor a tarefa de casa, foi sugerido mostrar alguns trechos do curta metragem Logorama [3] de Nicolas Schmerkin, ganhador do Oscar de 2010. Este vídeo mostra uma trama estilo holiwwodyano em que o mundo e os personagens são feitos apenas de logomarcas e mascotes de marcas conhecidas. Uma pacata cidade é cenário de uma perseguição policial ao vilão Ronald Mc Donald, terminando com uma catástrofe que mergulha o mundo num mar de petróleo.

 

 

 

 

 

Tarefa para casa

            Foi pensado pedir para que os alunos realizassem uma atividade ao longo de uma semana, até a próxima aula. O objetivo dessa tarefa é os fazer pensarem sociologicamente o quanto esse mundo de marcas que estimula a cultura do consumo está ao redor de cada um deles. A tarefa consistiria em recolher imagens, anotações, fotos, de marcas que os rodeiam cotidianamente e fazer um pequeno portfólio para a semana. Além disso, ao longo da exposição podem ser colocadas algumas questões para que eles pensem e reflitam ao longo dessa atividade:

1)      No mundo atual, com fronteiras mais flexíveis, onde as informações circulam em tempo real, qual o impacto das mensagens publicitárias na sociedade?

2)      Sua consciência como consumidor fica adormecida frente a algumas distorções que são oferecidas nos anúncios?

3)      A propaganda dita regras de comportamento pautadas pelo consumo?

Essa atividade pode servir como parte da avaliação final desse conjunto de aulas, podendo contar como pontos de participação, mas sua importância está no fato de poder relacionar com o último tema do conjunto de aulas, onde vamos trabalhar a construção de identidade dos jovens na sociedade contemporânea a partir dos hábitos de consumo deles.

 


[1] ROMANOVSKI, J. P. e MARTINS, P. L. O. A aula como expressão da prática pedagógica. In: VEIGA, I. P. A. (Org.). Aula: Gênese, Dimensões, Princípios e Práticas.  Campinas, SP: Papirus, 2008.

[2]  GORZ, André. O Imaterial, São Paulo, Annablume, 2005, p.47

[3] http://blogcitario.blog.br/2010/03/logorama-a-publicidade-oscarizada/ – Acessado em 24/11/2011.